Empresas Brasileiras Não Estão Preparadas para Receber Pessoas com Deficiência, Revela Pesquisa

Zubov Morozov
By Zubov Morozov 5 Min Read

Uma pesquisa recente revelou que oito em cada dez trabalhadores com deficiência ou neurodivergência acreditam que a maioria das empresas não está preparada para recebê-los em seu quadro funcional. O estudo, intitulado “Radar da Inclusão: mapeando a empregabilidade de Pessoas com Deficiência”, foi realizado pelo Pacto Global, uma iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU), em parceria com a Talento Incluir, o Instituto Locomotiva e a iO Diversidade. Os dados obtidos mostram a necessidade urgente de melhorias nas práticas de inclusão nas empresas brasileiras.

O levantamento contou com a participação de 1.230 pessoas com 18 anos ou mais que se declaram neurodivergentes ou têm alguma deficiência. A pesquisa foi realizada entre 20 de outubro e 3 de novembro de 2024. Um dado interessante é que 71% dos entrevistados preferem trabalhar em modelos remotos ou híbridos, que combinam trabalho presencial e remoto. Essa preferência é maior do que a atual realidade, onde apenas 58% já estão nessa rotina, indicando uma demanda por maior flexibilidade no ambiente de trabalho.

Para muitos trabalhadores, ter a autorização da chefia para trabalhar de casa é fundamental, especialmente para aqueles que já possuem equipamentos adequados em casa. Muitas vezes, esses profissionais não encontram as condições mínimas necessárias em seus locais de trabalho, como mesas e cadeiras adaptadas. Essa falta de infraestrutura adequada pode ser um obstáculo significativo para a produtividade e o bem-estar dos funcionários com deficiência.

Um relato impactante de um usuário cadeirante nas redes sociais ilustra a realidade enfrentada por muitos. Ele foi selecionado para uma vaga de emprego, mas foi dispensado logo em seguida porque sua cadeira de rodas não passava entre os batentes da porta do banheiro do escritório. Esse tipo de situação evidencia a falta de acessibilidade em muitos ambientes de trabalho, que ainda não estão preparados para receber adequadamente pessoas com deficiência.

A pesquisa também revelou que um terço dos respondentes (33%) considera que seu ambiente de trabalho não é devidamente adaptado. Além disso, a maioria dos participantes se apresenta como pessoas com deficiência ou neurodivergência durante processos seletivos, o que pode indicar que alguns ainda não se sentem confortáveis para se declarar. Essa hesitação pode ser resultado do medo de perder a vaga ou da falta de um diagnóstico claro sobre suas condições de saúde.

Entre as neurodivergências, estão incluídos diagnósticos como TDAH, transtorno do espectro autista (TEA) e transtorno afetivo bipolar. Muitas vezes, pessoas com TDAH são mal interpretadas como desinteressadas, quando, na verdade, possuem um modo único de concentração que deve ser respeitado. Essa falta de compreensão sobre as diferentes formas de neurodiversidade contribui para a exclusão e a marginalização desses indivíduos no ambiente de trabalho.

A pesquisa também destaca que a existência de programas de inclusão e acessibilidade nas empresas é um fator determinante para a escolha de um emprego por um quarto dos respondentes. Quase metade dos entrevistados (47%) preferiria vagas exclusivas para pessoas com deficiência ou neurodivergência, enquanto 49% se candidataram a qualquer vaga disponível. Isso demonstra a importância de políticas de inclusão efetivas para atrair e reter talentos diversos nas organizações.

A diretora Lia Calder, da empresa 4CO, que se especializa em ações de diversidade e inclusão, aponta que, apesar de existir uma política desde 1991 para promover a inclusão de pessoas com deficiência nas empresas, os avanços têm sido limitados. A realidade ainda está distante do ideal, e muitas empresas preferem arriscar-se a enfrentar denúncias do Ministério Público do Trabalho a implementar as mudanças necessárias. Essa mentalidade revela uma falta de comprometimento com o desenvolvimento profissional de pessoas com deficiência, que muitas vezes permanecem em cargos de base por longos períodos sem oportunidades de crescimento.

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